Início » Permissão ou punição?
Este é um dilema familiar muito grande na vida de pais, tios, avós, enfim de quem cuida de crianças e jovens. Não só de quem cria as futuras gerações, como também dos educadores, que nestes tempos pós-pandemia passaram a enfrentar o impasse entre permissividade e punição, pois o sentimento de não poder frustrar as crianças e os jovens, algo que foi alimentado durante esses cerca de dois anos deles distantes das salas de aula, reduziu muito, e de forma negativa, o senso de responsabilidade que deveria ter sido assimilado e aprimorado nas escolas. É falsa a ideia de que a obediência às regras leva à frustração. A permissividade sim, afasta deles a perseverança e a chance de vencer e se superar. A permanência nas casas, nos tempos de aulas on line, os levou a diminuir a resistência a superar momentos difíceis e, principalmente, a entender a necessidade social de voltar a obedecer às regras, algumas básicas.
Quando um aluno é alertado devido a uma pseudotransgressão, por exemplo, pelo uso do celular na sala de aula, algo que tira a concentração e desvia o foco do objetivo principal naquele momento, ele considera isso uma punição. O celular é um aparelho que pode e deve ser bem usado como importante ferramenta educacional, mas no devido tempo. Na hora certa e com liberação para todos. É preciso entender que a ideia de que se pode fazer tudo, caso contrário é opressão, é totalmente errada! Esse processo dessa falsa mudança de entendimento se acentuou na pandemia e ficou evidente quando os alunos deixaram o modelo híbrido e retornaram às aulas presenciais diárias. Nesse momento em que a ideia era a de acolhimento das crianças e dos jovens, esses desvios de conduta passaram a ser mais marcantes.
Excesso de conversa durante as aulas, falta de controle, euforia exacerbada pelo reencontro com amigos e amigas são pontos que carecem de limitação e isso não significa punição. É simplesmente ordem e eles precisam ser preparados e entender que a vida fora das escolas tem regras e padrões que precisam ser obedecidos, aí sim, sob pena de punições mais severas, seja na área cível ou até mesmo na criminal. Uma palavra-chave nestes momentos de retomada é equilíbrio, pois o remédio que cura é o mesmo que mata. Tudo depende da dose. Essa readaptação das crianças e dos jovens não pode e nem deve ficar restrita às escolas. Tem de começar dentro de casa, na família, que é a base de tudo. É preciso buscar esse entendimento começando no núcleo familiar para chegar até as salas de aula no relacionamento alunos e educadores, que também sofreram e ainda sofrem es efeitos da pandemia.
Esse isolamento, que nunca tinha sido vivido pelas gerações atuais, fez grupos de crianças e jovens desenvolverem atitudes e hábitos peculiares e que foram transferidos para as salas de aula. Muitos deles se tornaram extremamente avessos a regras, o que tem de mudar no retorno às escolas onde eles tiveram de mudar hábitos adquiridos nos últimos dois anos. A família é a base de tudo e é necessário que esse processo de retomada seja trabalhado, primeiro, dentro de casa, com eles entendendo que nas escolas existem regras pedagógicas para serem seguidas. Somente sem permissividade, com obediência e determinação é que os jovens poderão superar a defasagem educacional e emocional perdida para a Covid-19.
José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida e LIV (Laboratório Inteligência de Vida). Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.