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Ver é diferente de enxergar

Na linguagem falada do dia a dia as palavras ver e enxergar possuem significados parecidos, mas são diferentes. Os dicionários as definem de forma bem próxima, como acontece normalmente nas conversas faladas. No entanto, pequenos detalhes de entendimento mostram as diferenças. O verbo enxergar tem como um dos significados o de alcançar com a vista, avistar. Já o também verbo ver pode ser analisado como perceber pela visão, olhar para algo, alguém, contemplar. Sutil, e muitas vezes difícil de perceber essa desinteligência entre os verbetes, mas existem.

Existem e ficam mais claros ainda quando os levamos para o cotidiano da Educação no Brasil. Para tentar deixar mais clara a diferença entre ver e enxergar vamos definir que ver tem um sentido mais amplo, mais profundo do que simplesmente enxergar. Quando falamos das crianças e dos jovens das nossas escolas, em especial do Fundamental I e Fundamental II, pergunto se temos percebido mudança comportamental neles? Enxergamos ou vemos essas alterações pelas quais todos passamos? O constante uso das redes sociais feito por praticamente todos eles nós só temos enxergado ou realmente temos visto?

Se vemos, fica a pergunta: o que nós, como pais, tios, tias, avós, enfim responsáveis pelas crianças e adolescentes, temos feito para nos aprofundar, de forma mais ampla dentro do dever de educar que cabe aos pais. O que temos feito, ainda mais agora com a proximidade do final de um ano letivo atípico, depois de duas temporadas de pandemia que trouxe sérios problemas de saúde e emocionais a todos nós, especialmente às crianças e aos jovens, que ficaram ausentes das salas de aula  e tiveram o aprendizado bastante afetado? Com essa sequência toda e ainda a Copa do Mundo, temos de pensar em onde devemos nos aprofundar em 2023, em como vamos cuidar daqueles que são o futuro do Brasil e em como as instituições de ensino, sejam particulares ou públicas, vão cuidar desse essencial tema.

A escolas que se prepararem para enfrentar esses obstáculos certamente sairão na frente para o ano que vem. É preciso que todos os estabelecimentos de ensino trabalhem a visão socioemocional desses grupos de alunos. É necessário que todos caminhem no mesmo rumo, que é o de andar ao lado das famílias deles e trabalhar a inteligência emocional dos estudantes e, especialmente, dos filhos, netos, sobrinhos, enfim, daqueles que estão sob sua responsabilidade. Este é o programa que todas as escolas precisam ter. Se a rede particular pode fazer isso, por que a escola pública não pode? Todos podem e para isso é preciso que vejam e não somente enxerguem os problemas, em especial as soluções para dar o melhor atendimento possível a essas gerações. Nossa visão precisa estar voltada para o desenvolvimento e a inteligência socioemocional deles. Professores, educadores, pais, responsáveis precisam, unidos, se preparar para enfrentar 2023. Todos temos de ver e não somente enxergar nossos filhos e alunos.

Precisamos que os responsáveis ampliem sua visão comportamental e eliminem esse relativismo que leva algumas crianças e jovens a pensarem que tudo podem e que podem fazer tudo o que acham que devem. Essa é uma ideia errada e é necessário que continuemos a cuidar deles da melhor forma possível. Um dos pontos essenciais nessa questão é o acolhimento, sobre o qual temos falado desde o começo da pandemia da Covid-19. Acolher não significa subtrair regras e sim auxiliá-los a cumprir as regras pedagógicas. É fundamental que professores, educadores e responsáveis não somente enxerguem, mas, antes e acima de tudo, vejam que sem essa atitude corremos o risco de quebrar a estrutura educacional.

José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida e LIV (Laboratório Inteligência de Vida). Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.