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A Fuga da Estupidez

A palavra estupidez, que consta no título, tem vários significados na língua portuguesa e o deste texto está mais para sentidos menos rudes e agressivos. Aqui sua compreensão deve ser como a de falta de discernimento adequado e a perda de respeito pela dignidade das outras pessoas. Uma das maneiras de evitar essa contaminação de nossas crianças, adolescentes e jovens e reduzir esses problemas, é verificando onde e como estão colhendo notícias sobre os mais variados assuntos e como o sistema educacional, público e particular, tem tentado ajudar a evitar esse acesso, muitas vezes irrestrito.

É difícil competir com redes sociais, com aplicativos de vídeos e de jogos que, muitas vezes, repassam informações rasas e sem qualquer checagem jornalística. Alunos do Fundamental I, Fundamental II e Ensino Médio também têm como referência alguns atletas, especialmente do futebol, que passam péssima imagem dentro e fora dos campos. Nas quatro linhas simulam faltas, provocam brigas e, muitas vezes, agridem adversários, quando o correto seria se cumprimentarem depois da partida. Esses – alguns consideram ídolos – e suas atitudes mais do que questionáveis, acabam por levar crianças, adolescentes e jovens a se estupidificar, a serem deseducados, desaforados, a se tornarem tolos.

Para tentar minimizar os resultados dessas várias consequências, a cidade do Rio de Janeiro proibiu o uso dos celulares nas classes das escolas municipais, no intervalo e em realização de trabalhos individuais ou em grupo mesmo fora das salas de aula, claro, dentro das instalações estudantis, com o respeitável argumento de que o aparelho atrapalha o processo de aprendizado. Em São Paulo, especialmente em Santos, algumas escolas particulares tomaram decisão nessa mesma linha, com menos rigor em relação ao uso fora das classes. Não sem antes implantar um processo de conscientização em alunos, pais e responsáveis.

Após muita conversa e a natural resistência para silenciar momentaneamente um objeto que passou a fazer parte do dia a dia em quase todo o mundo, ficou acertado que eles podem levar o celular, que possui grande utilidade quando usado com parcimônia, para a escola, mas o aparelho deve permanecer no que ficou conhecido como Modo Mochila. Ou seja, silenciado e guardado entre os pertences dos estudantes. Em caso de descumprimento, o aluno é encaminhado à coordenação que informa os pais, que conhecem as regras devido ao necessário entrosamento com professores, diretores e coordenadores escolares. Em seguida o estudante volta à sala de aula.

Essa atitude das escolas e dos pais ou responsáveis gerou uma frase que diz: ‘‘Se você é um pai ou mãe chato aos olhos do seu filho por obedecer às regras, parabéns! Você está contribuindo para ele ser um adulto melhor num breve futuro.’’ O constante uso de redes sociais e jogos, pouco ou quase nada transmite de útil para a formação de um bom cidadão, pois tira o que os especialistas chamam de visão empática dos alunos e esse acesso gera tristes circunstâncias. O noticiário apresenta casos de agressão a professores, diretores e coordenadores dentro da sala de aula e de alunos preferindo filmar uma briga entre colegas de classe a tentar separá-los.

O ato ilícito de publicar essas imagens nas redes sociais será direcionado aos pais, que terão responsabilidade civil, pois muitos são menores de idade. Esse ato também é o que se pode denominar de visão estúpida de amor ao próximo, que é quando a sensibilidade fica reduzida a quase zero e atingimos a incivilidade. Pais, mães, tios, tias, avós, responsáveis em geral, precisam trabalhar muito, e em conjunto, para que nossas crianças, adolescentes e jovens, os hoje estudantes que em breve serão o futuro de São Paulo e do Brasil, não se tornem estúpidos, aí sim em todos os sentidos da palavra.

José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida. Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.