Início » E não é que o Chico Bento estava certo!
A escrita é um processo simbólico que possibilitou ao homem expandir mensagens dos seus dias para muito além do seu próprio tempo e espaço. Alguns desses, digamos recados, transmitidos pelos homens das cavernas, nos permitiram entender uma série de situações pelas quais eles passavam e que seriam definitivamente perdidas caso não os tivessem gravado nas paredes das cavernas ou em pedras. Desenhos, alguns até bem elaborados, e rabiscos foram o início da escrita. Escrever é importante, pois permite que a mente flua, deixando nosso pensamento no papel, falando sobre algum assunto que aconteceu ou está acontecendo. Ou simplesmente contamos uma história, verdadeira ou não.
Como escrever corretamente para se compreender um texto, com regras de linguagem se as regras são consideradas elitistas? Regras de ortografia e de gramática são elitistas? Claro que não, mas se tornaram para uma universidade na cidade de Hull, no Norte da Inglaterra, que proibiu seus professores de corrigirem os erros dos alunos. O argumento, que eu aqui no Blog do Chiarella e pelos nossos lados denominaria de Tese Chico Bento, conhecido personagem de Mauricio de Souza, inadvertidamente transformado de cartunista em profeta do apocalipse educacional ao retratar esse personagem de história em quadrinhos que brinca e engrandece o caipira do Brasil. De acordo com a Universidade de Hull (a 14ª mais antiga do tradicional país), a mudança faz parte do que eles definiram como uma política de avaliação inclusiva que tem como objetivo “descolonizar os currículos”.
Quem diria que um dos países que mais colônias teve no mundo falaria em descolonizar ainda que seja os currículos? Realmente, são outros tempos. A perspectiva dos responsáveis pela universidade é, segundo disseram, assegurar aos alunos oportunidades iguais sem contar o tipo de formação que tiveram. Eles acreditam que esse método funcionaria como um tipo de avaliação mais justa levando em consideração “a qualidade das ideias e do conhecimento”. Eu, professor Chiarella, tentarei explicar de maneira rápida o que os responsáveis pela universidade determinaram aos professores. Se o aluno escreveu algo, ainda que totalmente fora da grafia básica e correta do inglês (no caso deles, claro!) e se faltaram algumas letras, ou palavras, se aconteceram erros de ortografia e tal, mas ainda assim, mesmo que com esforço, o professor entendeu, o texto deve ser aceito sem correções que podem ser consideradas, como disseram, elitistas.
E vejam que esse tipo de atitude veio da direção de uma importante universidade. A alegação dos responsáveis se baseia no argumento de que a correção tradicional dos erros ortográficos e de outros problemas gramaticais têm desencorajado e desanimado os alunos que “estão em certas desvantagens“. Essa prática, que alguns chamam de inclusivas, já se está espalhando e tem afetado outras unidades de ensino inglesas que foram pressionadas a receber estudantes que vieram de lugares denominados de desfavorecidos (uma abominável expressão do politicamente correto para definir países do Terceiro Mundo) e que sofrem para se comunicar minimamente e adequadamente na Inglaterra, onde escolheram estudar e, pelo menos em tese, melhorar seus conhecimentos.
Essa triste e lamentável situação me leva a lembrar de conversas que, com certeza, muitos já ouviram numa bate-papo entre amigos quando um tenta explicar algo, muitas vezes sem o devido conhecimento do assunto, e não consegue com precisão e depois de muita enrolação, sapeca: Você entendeu, né? Então não complica….
José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida. Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.