Início » Geração acelerada
Muita gente reclama da velocidade que a vida passa, de tudo ser acelerado, rápido demais, sem se dar conta de que colabora para que isso aconteça. Como? De várias maneiras e uma delas está, literalmente, bem à mão. Um dos exemplos dessa desmedida ajuda está no celular. Há algum tempo o aplicativo WhatsApp criou uma maneira de seus usuários ouvirem as mensagens de voz de forma mais rápida, mais acelerada. Mais ágil, diriam aqueles que constantemente reclamam da falta de tempo. O que, para os padrões de vida atuais é uma longa gravação de um minuto, pode ser transformado em menos tempo numa das duas opções, além da normal, fornecidas pelo aplicativo. E esse imediatismo não é prioridade somente das novas gerações, criadas com muitas facilitadoras ferramentas de comunicação.
Até mesmo a geração que vamos chamar de 40+, aquela criada de forma que um simples olhar dos pais já transmitia um sério e direto recado, adotou essa prática de ouvir mensagens aceleradas. Por pura falta de paciência. É um novo processo de comunicação. Novo e perigoso, pois uma frase dita pausadamente e com a devida entoação na gravação normal se transforma em rápida demais e, muitas vezes, com entendimento diverso do pretendido. As pessoas passaram a ser mais ansiosas ainda, até intolerantes, com mensagens um pouco mais longas do que esperavam. Isso demonstra, entre outros fatores, falta de aceitação do ritmo e do tempo alheios.
A transformação que afeta várias faixas etárias de usuários os transformou em gerações aceleradas. Essa velocidade desmedida alcança as pessoas – no caso os mais jovens, estudantes do Fundamental I, Fundamental II e do Ensino Médio – e atrapalha o processo educacional convencional e até mesmo a essencial escolha da futura profissão. É preciso calma e parar para pensar e avaliar o segmento profissional que o deixará realizado e feliz. Mas nem tudo está perdido, pois a Inteligência Artificial (IA) pode ser uma boa aliada, mas também tem de ser usada de maneira equilibrada, como quase tudo na vida. É bom que todos tirem proveito dessas novidades que pipocam quase que diariamente na internet, sempre de forma adequada.
A aceleração reduz o tempo para se pensar, para se avaliar determinada situação ou se dar uma resposta. Muitos momentos da vida exigem calma para se posicionar, pois o imediatismo que se tem visto pode fazer com que a música Admirável Gado Novo, se torne realidade. De maneira profética Zé Ramalho escreveu há mais de 43 anos a letra que diz: “Êh, oô, vida de gado/ Povo marcado êh/ Povo feliz”. O imediatismo nos transforma em gado, claro que num sentido figurado, como o apresentado pelo poeta. Precisamos urgentemente desacelerar as novas gerações e os 40+. Temos de reaprender a ter tempo para ouvir não somente as mensagens, como também as pessoas. É necessário que se pare de querer ser somente emissor e reassumir o importante lado receptor. De mensagens e de ideias.
Esses posicionamentos andam em falta não somente na rede, nos aplicativos, como também no mundo como um todo, pois temos acompanhado acontecimentos de guerras recentes que são resultado de intolerância e de desequilíbrio. Quantas vezes se pode acompanhar palavras de grandes dirigentes mundiais que acabam se tornando precipitadas devido à falta de análise, ou seja, aceleração? A vida não pode e nem deve ser levada nesse ritmo, pois é breve. Se um dia vai acabar, pelo menos neste mundo, para todos, por que acelerá-la mais do que o necessário? Por que mudar o ritmo dos nossos pensamentos, do nosso coração? Nosso tesouro está onde está o nosso coração.
José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida. Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.