Início » Nada do que foi será
Essas palavras do título são da música do compositor Lulu Santos e servem para ilustrar a falta de interesse pela carreira de professor. Alguns anos atrás os mestres eram respeitados, citados como referência pelos alunos, que os admiravam e seu salário dava bom nível de vida. Muita gente almejava atingir essa posição de destaque não só nas escolas, como também na sociedade em geral. Hoje, devido à desvalorização, à baixa remuneração, à falta de reconhecimento, ao aumento do número de alunos nas salas de aula e à falta de segurança, os candidatos a professor praticamente desapareceram. Com isso, o corpo docente atuante envelhece a cada dia e, com isso, o setor não apresenta a obrigatória e necessária renovação. Esse é um dos grandes problemas enfrentados pela educação no Brasil.
Pesquisa da Semesp, entidade que representa as mantenedoras de ensino superior nacional, confirma esse desinteresse pelo magistério. Enquanto cai o interesse dos jovens em início de carreira (até 24 anos), cresce a quantidade de mestres com 50 anos ou mais à frente das classes. Alguns destes professores estão prestes a se aposentar e a fazer aumentar ainda mais essa lacuna. Estudos revelam que, a se manter a taxa de 20,3 pessoas com idade entre 3 e 17 anos para cada docente em exercício na educação básica, em 2040 serão necessários 1,97 milhão de mestres para atender a demanda de alunos. Na contramão, pelo crescimento de 2021, estima-se que o número de educadores diminuirá 20,7% até 2040. Considerando a demanda e a oferta, o déficit de docentes na Educação Básica em 2040 deve chegar a 235 mil. A falta de interesse dos mais novos na carreira também tem o agravante de políticos do alto escalão governamental já terem dito, de maneira irresponsável, que a carreira de professor é a última a ser escolhida pelos estudantes do nível superior.
Assim, o que se pode fazer para que o magistério ganhe essencial impulso? Como os atuais e futuros professores podem se comunicar melhor com as novas e novíssimas gerações que vêm por aí? Como falar uma linguagem, que eles consigam entender, de maneira clara, para repassar conhecimentos essenciais? Em primeiro lugar é preciso promover um processo de aprendizado com novas maneiras para se lidar adequadamente com os alunos mais novos. Além de o professor buscar esse crescimento, o Estado, no caso das escolas públicas, e as instituições de ensino particulares precisam oferecer constantes cursos de atualização, tal a quantidade de mudanças enfrentadas. Os mestres precisam ter o domínio das novas tecnologias digitais, pois ninguém pode sequer imaginar que essas gerações de estudantes possam voltar ao caderno, lápis, caneta e borracha. Vivemos a era digital e as crianças e os jovens mais ainda, pois muitos deles nasceram com o computador, celulares e iPads nas mãos. Plataformas digitais e aplicativos estão aí para serem consultados e usados pelos professores e pelos alunos.
Essa maior inserção no mundo digital aumenta o interesse dos jovens pela matéria ensinada e os faz se engajarem no que está sendo aprendido. A educação precisa estar embutida no coração e na mente dos mestres para se dar uma aula com o conteúdo necessário, mas de forma diferenciada e de fácil assimilação. É necessário ensinar que cidadania e cidadania digital têm os mesmos direitos e deveres, como respeito, autonomia sem ofensas ou palavrões e, com isso, caminhar para uma nova construção social em busca de valores fundamentais à sociedade. Em resumo, crianças e jovens têm de entender que precisam trafegar e conviver bem nesses dois mundos.
Apesar de lidar com um cotidiano difícil, cansativo, desgastante, inseguro e pouco valorizado – esses são alguns dos motivos do afastamento dos formandos da opção do magistério – o professor também precisa programar capacitações constantes e assimilar novas práticas de ensino. Esse diferencial lhe abrirá mais possibilidades no mercado de trabalho e, consequentemente, melhores salários. O sonho dos educadores responsáveis é ter um milhão de professores aplicando essas ideias e melhorando a educação. Para isso é essencial que os governos municipais, estaduais e federal invistam na constante capacitação dos mestres, que também precisam trabalhar juntos, dividindo experiências práticas do dia a dia. Com isso todos cresceriam e, assim, nada será como antes.
José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida. Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.