Início » Natal sem sentido
Quanto mais se vive, mais se observa o ser humano se superar nas sandices. Nicolas Maduro, ditador da Venezuela, país da América do Sul que tem o resultado das eleições questionado por boa parte do mundo, aprontou mais uma das suas. Ele – acreditem se quiser – adiantou a comemoração venezuelana do Natal para o dia 1º de outubro. É isso mesmo! A data máxima da cristandade na Venezuela, que apesar da intensa perseguição ainda é considerado um país cristão, foi antecipada em mais de dois meses. E, para maior espanto ainda de boa parte das pessoas, esta não é a primeira vez que ele decreta essa insólita modificação. Em 2020 o ditador fez o mesmo, mas só que antecipou a festa pelo nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus, para 15 de outubro. Ele usou essa atitude como uma cortina de fumaça para tentar encobrir o que muita gente – na verdade quase o mundo democrático inteiro – considera uma fraude eleitoral, pois ele teria perdido as eleições nas urnas para o principal opositor Edmundo González (ameaçado de prisão), mas se manteve no poder com as Forças Armadas ao seu lado.
Por que, em vez de falar sobre Educação, como normalmente, enveredamos por essa seara da política internacional? Que efeito isso tem em nossos alunos do Fundamental II e do Ensino Médio, especialmente de Santos? Por aqui, pouco, mas com certeza na Venezuela uma situação como essa tira dos estudantes a realidade que a nação vive. Maduro simplesmente decretou algo que não existe, uma pseudofelicidade empurrada goela abaixo de todo o sofrido povo venezuelano, que, por mais desinformado que seja, sabe que o Natal é mais do que uma simples data no calendário, é um convite profundo à reflexão, despertando em todos a necessidade urgente de repensarmos ações e sermos, verdadeiramente, melhores uns para os outros da forma como o aniversariante do dia 25 de dezembro, Jesus Cristo, nos ensinou.
Essa esdrúxula decisão do ditador Maduro é também uma atitude de menosprezo à inteligência dos seres humanos e – por decreto – coloca toda a nação venezuelana fora da realidade. Ele menospreza a formação dos jovens, se é que realmente está preocupado com algo além de se manter no poder a qualquer custo. Na sala de aula os professores têm de ensinar que em uma democracia verdadeira – não existe democracia relativa – os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) precisam trabalhar conjuntamente. Sem essa perfeita harmonia não se tem o regime democrático e temos visto de forma marcante esse mesmo fato em alguns outros países além da Venezuela. O que mais estarrece é ver que ele pegou toda a nação e, de forma lamentável, praticamente disse: ‘‘Vocês são idiotas!’’
Essa atitude do déspota remete à história do rei que queria conquistar um país vizinho, mas entre eles havia um deserto e seu capitão disse que os cavalos dos seus soldados não conseguiriam atravessar esse tipo de terreno, pois morreriam de calor e de sede e que para essa empreitada precisariam de camelos. Então, o rei emitiu um decreto determinando que a partir daquele momento todos os cavalos seriam chamados de camelos. Em outras palavras, foi isso o que o Maduro fez ao antecipar o que ele chamou de felicidade do Natal com a liberação de verba para a compra dos presentes. Ele prestou mais um desserviço à sofrida população venezuelana, que vislumbra um sombrio e manipulado futuro pela frente.
José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida. Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.