Início » Sem compromisso algum?
Agamia é uma das mais recentes palavras incluídas no dia a dia da judiada língua portuguesa brasileira e, segundo o dicionário, vem do grego (a, significa não ou sem, e gamos é referente à união íntima ou casamento). O verbete se refere à falta de interesse de uma pessoa (homem ou mulher) em estabelecer um vínculo romântico, muitas vezes acompanhada da decisão de não ter filhos. Essa queda da população jovem tem sido um dos grandes problemas de nações mais desenvolvidas, como o Japão, por exemplo, que se ressente daquilo que deveria ser uma natural renovação da mão de obra nos mais variados segmentos profissionais. O governo japonês tem incentivado seus cidadãos a terem filhos para que o futuro do país continue promissor.
Essa postura recente de homens e mulheres de, em média, 30 anos, apresenta as novas gerações tentando definir formas de relacionamento livres e interpessoais e não está ligada somente à parte sexual. Nada a ver com a diversidade sexual cantada em verso e prosa. Essa geração indica que quer se afastar de qualquer compromisso, o que leva a pessoas de 30, 40, até 50 anos, a continuar morando com os pais. É mais fácil, mais cômodo. Eles não querem qualquer sinal de compromisso, pois norteiam a liberdade individual em paralelo ao relacionamento. Essas novas gerações tentam minimizar os efeitos ou ainda afastar qualquer sinal de afetividade, mas seres humanos que vivem em sociedade apresentam essa mesma proximidade afetiva por companheiros de trabalho, amigos mais próximos ou mesmo os mais distantes fisicamente, pelos sobrinhos, filhos, irmãos, enfim, uma grande quantidade de pessoas a quem são ligados direta ou indiretamente. Muita gente tem amigos que não vê há anos, mas que não deixaram de ser lembrados e continuam a merecer atenção e afeição.
Essa já real situação agâmica sonha em transformar os relacionamentos interpessoais em algo sem romantismo e, com isso, bloqueia a constituição de uma família, pois marido, mulher e filhos implicam em obrigações e deveres a ser cumpridos, ou seja, em relacionamentos. De forma estarrecedora, eles buscam criar uma sociedade descompromissada, com relacionamentos curtos e rasos e sem qualquer vínculo considerado mais longo. A vida em sociedade é um desafio e não existe vitória sem luta. A despeito de essas atitudes e modo de pensamento serem complicados, o mais preocupante é o que essas ideias plantam para o futuro. Esse é o grande dilema pela frente. Que sociedade teremos num futuro próximo? E não estamos falando de um século, de cinquenta anos, e sim de cerca de duas décadas, quando os hoje jovens de 30 e os de 40 terão, respectivamente, 50 e 60 e já não apresentarão a mesma disposição para o trabalho num mercado que cada vez mais deleta, sem piedade alguma, os acima de 45, 50 anos.
A falta de renovação da população do país provoca graves problemas sociais e econômicos, pois com essa manutenção de pensamento agâmico, sem os jovens (filhos e filhas dessas gerações Y e Z) o Brasil tende a ver reduzida sua mão de obra e aumentadas as despesas com a seguridade social, as aposentadorias, seja lá quando isso vai acontecer com esses grupos. Governos federal, estadual e municipal precisam se preparar e até criar políticas públicas para incentivar esses homens e mulheres ainda jovens a manterem o País como uma nação com grande massa de força de trabalho jovem para que o futuro não seja mais sombrio ainda.
José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida. Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.