Início » Será que tenho escolha?
Diz a fábula que um antílope estava correndo como um louco quando o elefante perguntou: por que você está correndo assim? Esbaforido, o antílope respondeu: estão prendendo todas as cabras da cidade! Espantado, o elefante retrucou: mas você não é uma cabra! Retomando a corrida, o antílope disse: eu sei, mas levarei 20 anos para provar que não sou uma cabra… E o elefante também começou a correr.
Essa história serve para ilustrar e, ao mesmo tempo, responder a pergunta acima. Será que tenho escolha? Sim. Tenho. As opções são: ser proativo, ficar calado ou deixar de opinar. Hoje temos no Brasil uma liberdade de expressão que flerta com a subjetividade interpretativa de poucas pessoas. Opinar, especialmente nas redes sociais ou em eventos públicos, coloca o cidadão sob o risco de ser acusado de discurso de ódio por conta do entendimento jurídico do texto. Em vários níveis da sociedade, as pessoas exercem papel de julgadores e esse é um fato que preocupa, pois a Constituição Federal garante liberdade de expressão e de pensamento. É cláusula constitucional e nas redes sociais se convencionou que cancelar uma pessoa é estabelecer juízo.
Aí todos ficamos em dúvida sobre a oportunidade que crianças, jovens e adolescentes terão de analisar e avaliar os vários pensamentos sobre o mesmo assunto. O País vive momento de dicotomia política e é preciso que todos possam pensar para incentivar o equilíbrio de mais ideias sem que tenhamos de escolher somente entre A ou B. Temos numa censura velada, sabe se lá imposta por quem, que tem impedido jovens e adolescentes de pensarem mais profundamente e de analisarem os vários matizes de ideias. Temos o direito de concordar ou discordar, ou muito pelo contrário, de não achar que este ou aquele está certo ou errado.
Então, especialmente nas redes sociais, qual deve ser a postura quanto à escolha de um, ou à não opção por um dos lados? Manter a inércia, com falta de análise e observação dos pensamentos? Não! Os adultos devem ensinar o certo para crianças, jovens e adolescentes para que no futuro o Brasil não volte a enfrentar essa luta contra a falta de ideias contraditórias ou só diferentes e de vários tons e cores. Devemos manter o equilíbrio de pensamentos que fazem parte da cidadania em uma democracia plena.
As novas gerações precisam saber que a Constituição Federal lhes assegura o direito de falar, mas com responsabilidade para que possam cumprir seu papel como cidadãos. Elas têm de assimilar que podem falar, sem, no entanto, difamar, caluniar ou injuriar outras pessoas. Essa escolha existe e as palavras não podem ferir esses princípios legais. Quem ensina (pais, mães, responsáveis, escola) deve repassar a quem aprende (crianças, jovens e adolescentes), com a ajuda da sociedade civil, que a cidadania deve ser exercida sempre dentro dos limites legais.
A subjetividade interpretativa nas redes sociais interfere muito na vida dos cidadãos, especialmente dos estudantes do Fundamental I, Fundamental II e do Ensino Médio. Todos precisam entender os padrões estabelecidos de forma clara e objetiva e não ficar à mercê de uma ou outra pessoa que pode mudar de ideia diariamente. Essa falta de modelo leva as pessoas a empobrecer a troca de ideias e de pensamentos, sejam eles quais forem. Isso não faz parte da democracia. A resposta à questão do título é: ‘‘Tenho escolha sim, e por isso resolvi escrever!’’
José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida. Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.