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Sociedade que tritura seus heróis

Todos, em algum momento da vida, já tiveram ou ainda têm um herói, seja real ou fictício. Afinal, o que é um herói? Existem várias definições para a palavra, mas a mais comum é a de um personagem que realizou atos de bravura e demonstrou grande coragem e nobreza. Em alguns casos essas habilidades superam, em muito, aquelas encontradas nas pessoas normais. Esses ditos heróis podem ser militares, que lutaram em guerras, policiais, que defenderam a sociedade com valor, gente da comunidade e, até mesmo, atletas.

No caso do Brasil, um dos mais conhecidos foi o piloto tricampeão mundial Ayrton Senna, cantado em verso e prosa como um herói dentro do coockpit do seu carro de Fórmula-1. Ele morreu numa manhã de domingo em 1994 – dia 1º de maio completará 30 anos -, mas o mito permanece. Muita gente idolatra e coloca jogadores de futebol nesse mesmo patamar. Guardadas as devidas proporções e trazendo a situação para o nosso dia a dia, será mesmo que só grandes personagens podem ser considerados heróis?

O povo brasileiro, desgastado por tantos desmandos dos governantes e dos políticos, tem baixa autoestima, a ponto de destruir, triturar mesmo, a imagem de algumas de suas figuras mais proeminentes. Mas, basta um simples olhar para que encontremos, bem perto, inúmeros heróis de verdade. Quem não conhece, ou pelo menos ouviu falar, de pais que sustentam a família com um ou dois salários mínimos ou até menos do que isso?

E aquele homem ou mulher que trabalha de sol a sol durante toda a semana e cuida de filhos, paga aluguel e ainda consegue sobreviver? Ou ainda avós que usam sua mirrada aposentadoria para manter a casa onde estão os netos, muitos sem os pais? E talvez um dos pontos mais tristes dessas histórias seja que as crianças, os adolescentes e os jovens acabam fazendo parte desse círculo vicioso de miséria e desinformação, que para tentar aumentar o orçamento familiar, são lançados prematuramente num mercado de trabalho paralelo.

Todos esses fatores invariavelmente acabam por levar essas gerações a abandonar as salas de aula, ou por absoluto desinteresse ou até mesmo pela falta de incentivo, dos governos federal, estaduais e municipais. Pais, mães, avós e avôs, responsáveis em geral, muitas vezes gastam o que não têm para direcioná-los às escolas e veem seus planos irem por água abaixo. Aprender, ter sua curiosidade e conhecimento estimulados, é essencial para a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. Estas são as gerações do futuro, as mesmas que em alguns anos estarão à frente das nossas cidades, do Estado e do Brasil.

Aprender, entender para que servem na vida cotidiana as matérias ensinadas pelos professores do Fundamental I, Fundamental II e do Ensino Médio é primordial para o futuro deles e dos mais velhos. Educadores integram a restrita lista dos heróis anônimos deste País. Apesar de todas as dificuldades para se lecionar, seja em escolas públicas ou particulares, os mestres continuam a merecer o respeito de todos os brasileiros, mesmo que alguns políticos ainda os tratem com desprezo e não deem a eles o devido valor. Professores, que já foram heróis de alunos, pais e familiares, também foram triturados pela sociedade imediatista.

José Roberto Chiarella, o professor Chiarella, é educador. Professor de Educação Física formado em 1986 e coordenador do Colégio Objetivo na Baixada Santista na cadeira de Direito e Cidadania e Formação para a Vida. Advogado com especialização em Direito Digital pelo Mackenzie e mestrado em Relações Internacionais Laborais pela Untref, na Argentina.